Desmistificação da Mulher na Obra Cais da Sagração de Josué Montello Sob a Ótica do Existencialismo Sartreano

Publicado em 09/10/2005

Somos separados das coisas por nada, apenas por nossa liberdade; é ela que faz que haja coisas com toda a sua indiferença, sua imprevisibilidade e sua adversidade, e que nós sejamos inelutavelmente separados dela, pois é sobre um fundo de nadificação que elas aparecem e que se revelam como ligadas umas as outras. (Op. cit., 599)

Lourença na condição de companheira fiel e dedicada, entrega a sua liberdade e o seu destino para Mestre Severino, refletindo de forma inadequada os seus desejos. A personagem perde a sua autenticidade na medida que a sua conduta é um misto de crença e fé. Entregando, portanto, a sua existência ao acaso, como ela mesma afirma:

Estou velha, cansada, Deus fazia uma caridade me levando daqui. Viver mais para quê? Nunca sofri como hoje. (...) Cheguei a andar pela praia, uma tarde inteira, com vontade de me matar. Na hora da morte, tive medo, acabei voltando para o meu canto, no fundo da casa, sabendo que eu tinha de sofrer minha pena até o fim. Era à vontade de Deus, o que eu ia fazer? (MONTELLO, 1981, p. 174).

É importante observar que Lourença se julgava vítima de si mesma. Todas essas condições de vida estavam ligadas ao infortúnio por uma provação a mais que lhe cumpria padecer. Como ressalta Montello, (1981, p. 73), "Aflitiva o amalgamasse ainda mais a essência de seu ser".

Dor, angústia foram sentimentos registrados e sentidos por Lourença. Ela não conhecera outra forma de vida, era necessário o cumprimento da sua má sorte. Daí, a projeção da sua personalidade no mundo para cumprir sua missão, ou melhor, sua provação. Diz Sartre, (1981, p. 443), "O…

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