As marcas temporais em “Catatau” de Paulo Leminski

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criação literária leminskiana alimenta-se de uma ansiedade que reúne ficção e filosofia numa estratégia de intensificação interrogativa, trágica porque, ao contrário de Édipo, a Esfinge devorará o questionador, por mais brilhante que sejam as respostas que este enunciar. A degradação artisticamente transfigurada do personagem em pederasta só foi possível devido ao afastamento histórico da personalidade filosófica de René Descartes. Assim, sua obra chega ao final com Artychewski bêbado, sem condições de fornecer explicações, e Cartesius se manteve numa espera inútil fazendo companhia ao leitor. Ora, uma espera demanda um tempo, e neste caso se trata de um tempo indefinível, intraduzível, já que cada leitor tem o seu próprio tempo para se ocupar com este objeto que é a obra de Paulo Leminski.

Como se pode observar neste trabalho, que ora encerramos, a produção textual assume diferentes matizes e mudanças de direção em sua organização porque sua realização se concretiza em diferentes momentos de contato com a obra e com os teóricos, além de variados estágios de angústias e incertezas. Ao acadêmico cabe concluir sua análise num relativo e curto espaço de tempo com objetividade e clareza, nem sempre alcançados.

Da mesma forma, Catatau levou oito anos de Leminski para se tornar uma obra terminada. Isso não significa uma comparação na qualidade ou quantidade, mas talvez, mesmo que de forma implícita, implique na capacidade e…