As marcas temporais em “Catatau” de Paulo Leminski

O texto de Catatau sugere uma urgência reveladora para o futuro imediato, um “instantâneo parado momento” (Leminski, p. 49).  O narrador observa com sua luneta, no momento presente, de posse do conhecimento do passado e condena as práticas da estética moderna de modo crítico e irônico. Esse olhar do narrador, em nada submisso, reclama em função de um direito legítimo, que a obra de arte seja vista como um espetáculo, não apenas ficcional, mas também como algo que possa transformar uma realidade caótica nacional. “A que época atribuir nossos tempos, em que heras incluí-los, quanto de nós por horas, a idade omitiu. Num arrepio de arrependimento, o que ia ser já era” (Leminski, p.49).

Mas a diversidade também atua na velocidade dos acontecimentos, acelerando ou retardando. Roland Barthes (1991, p.68), afirma que um texto não é feito de uma linha de palavras a produzir um sentido único, mas um espaço de dimensões múltiplas, onde se casam e se contestam escrituras variadas, das quais nenhuma é original: o texto é um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura.

“Esta história não é estável, não é bem assim. É um pouco diferente, talvez seja outra coisa: quem sabe uma outra natureza trabalhou nisso, com manhas e artes outras, e na continuação, seguramente nada tem que ver com o que já vimos, e no fundo é a mesma coisa, mas não confundam. Menina, quem te deixou prenhe foi um poeta que passou por aqui buscando uma etimologia... Foi ou não foi? Assine aqui; viva só para constar. Deste revertere, não voltarei; deste lugar não sobrará muito, talvez a cor local, e o cômputo das ruínas dos destritos, ─ o nome é o nome”. (Leminski, p. 80).

A produção criativa exige velocidade similar à do pensamento. O pensamento deve coincidir com a habilidade de registrar, no papel, o evento à medida que se processa na mente. A escritura exige uma metamorfose do pensamento num processo de osmose que, no…