As marcas temporais em “Catatau” de Paulo Leminski

CAPÍTULO III 

AS MARCAS TEMPORAIS NA OBRA CATATAU, DE PAULO LEMINSKI  

O sentimento do tempo é importante na música e na dança, pois só pode existir ritmo se o sentimento do tempo for adequado. Tempo e ritmo também são essenciais nas artes marciais, no arco, no tiro e na equitação. Em todas as artes e técnicas existe o tempo.                       (Miyamoto Musashi, samurai)

Como vimos no capítulo anterior, sobre a prosa contemporânea, o homem do século XX se sente ameaçado pela força de trabalho impulsionada pela máquina, pois não foi adaptado para aceitar grandes transformações em tão curto espaço de tempo. A história mostra, não apenas no Brasil, que em apenas um século a vida agrária foi substituída pela urbanização desenfreada que acarretou problemas de ordem social, política, econômica e cultural, entre outros, que modificaram profundamente a forma de percepção do tempo que o homem do campo absorvia.

Mas, além da história, é na literatura que podemos verificar como o processo temporal influenciou o pensamento do indivíduo de nossa época. Por isso mesmo, observamos que existe a necessidade de um distanciamento dos fatos, bem como de suas relações com outros episódios para sua caracterização no relevo histórico.

Assim, Linda Hutcheon (1991, 142) ao teorizar sobre metaficção historiográfica menciona que:

“para Aristóteles, o historiador só poderia falar a respeito daquilo que aconteceu, a respeito dos pormenores do passado; por outro lado, o poeta falaria sobre o que poderia acontecer, e assim poderia lidar mais com os elementos universais. Livre da sucessão linear da escrita da história, a trama do poeta poderia ter diferentes unidades”.

Tais dessemelhanças entre o historiador e o poeta se configuram de modo singular no romance Catatau. Nesta obra o narrador…