UM AMANHÃ MELHOR QUE HOJE: Cultura histórica e perspectiva de futuro nos sambas-enredo da década de 1980

Não alheias ao governo militar, as escolas de samba do carnaval carioca procuram se adaptar ao novo contexto político. As escolas de samba que busquei investigar são oriundas de comunidades periféricas da Zona Norte do Rio de Janeiro. Imersas nesta conjuntura política promoviam enredos pró-ditadura militar - como por exemplo o caso da Beija Flor de Nilópolis, que na sua trilogia (1973, 1974 e 1975) construiu um discurso elogioso aos benefícios que os governos militares desenvolviam pelo país, enfatizando as questões educacionais e as grandes obras – estradas, ferrovias - e também teciam enredos nos quais eram feitas críticas ao regime militar. As agremiações que buscavam desafiar, ou pelo menos se utilizar de táticas para conseguir criticar o regime militar, sofriam com o crivo da DCDP. Podemos relembrar os casos do Império Serrano em 1969 e a Unidos da Vila Isabel de 1974. No primeiro exemplo, a censura ficou incomodada com a palavra “revolução” em uma passagem do samba-enredo, obrigando a agremiação de Madureira a efetuar a troca para “evolução”. O caso da Vila Isabel foi mais severo, visto que, a escola pretendia exaltar os “Carajás”, grupo indígena que habita as regiões Centro Oeste e Norte brasileiro, entretanto, como havia investido muitos recursos na transamazônica, o governo militar exigiu que a agremiação exaltasse o progresso que o regime teria levado até a região norte. Inclusive, o samba-enredo favorito pela agremiação, de autoria do sambista Martinho da Vila, foi preterido por não ter se adequado ao objetivo do regime…