UM AMANHÃ MELHOR QUE HOJE: Cultura histórica e perspectiva de futuro nos sambas-enredo da década de 1980

Os problemas econômicos apontados aqui, foram transformados em fantasias e alegorias pela Unidos da Tijuca em 1988. Em uma das alegorias, a escola de samba se utiliza da metáfora do circo dos horrores para demonstrar o cenário econômico brasileiro. Utilizando-se de seus personagens, o anão representaria o salário baixo, a mulher barbada seria a inflação, o homem de perna de paus retrataria o aluguel e o leão corresponderia ao Imposto de Renda, sendo este, um animal que não morde, mas sim mama com o dinheiro público. No final do desfile, a Unidos da Tijuca nos leva à seguinte reflexão: quem pagará a conta do bar? Com esta metáfora podemos inferir que a agremiação carnavalesca buscou estabelecer um paralelo com a situação econômica do Brasil, cobrando o governo brasileiro sobre as crescentes dívidas externas que iam se acumulando.

Outras agremiações também levaram para a avenida temas que remetem à questão econômica do país. A União da Ilha do Governador em 1986 trouxe o enredo “Assombrações”, assinado pelo carnavalesco Arlindo Rodrigues. Entre as diversas assombrações apresentadas pela escola de samba, a econômica tende a nos rodear e nos incomodar. “O leão só morde o bumbum do pobre/ e o rico é que explode a boca do balão/ o FMI chegou aqui, fincou o pé/ devo e não nego/ um dia eu pago leva fé”⁴². Novamente podemos perceber a utilização da figura do leão do imposto de renda como…