UM AMANHÃ MELHOR QUE HOJE: Cultura histórica e perspectiva de futuro nos sambas-enredo da década de 1980

Não alheias a todas estas questões, as escolas de samba também estavam mapeando e denunciando as questões políticas, econômicas e sociais. No enredo da Unidos da Tijuca em 1988, intitulado “Templo do Absurdo”, assinado pelo carnavalesco Silvio Cunha, a agremiação tijucana nos convida a entrar no “templo do absurdo bar Brasil”. A escola de samba entende o bar/botequim como um ambiente para o debate político, cotidiano e futebolístico, “berço das grandes resoluções”, como aponta um trecho do samba enredo composto pelo sexteto Beto do Pandeiro, Nêgo, Vaguinho, Monteiro, Ivan Silva e Carlos do Pagode. Segundo o sociólogo Gilberto Luiz Lima Barral, o bar, em determinado espaço e tempo, aparece como lugar do advento da opinião pública, como um lócus de experiências e conhecimentos das coisas pela vivência e/ou observação, transformando-se em local de conversas e práticas políticas e culturais. Lugar onde, por exemplo, fala-se da cidade, às vezes sob uma narrativa homogênea, consensual, esperada, outras vezes ouvem-se falas polarizadas, provocadoras. (BARRAL, 2012, p. 19)

Deve-se pontuar que ao se utilizar da concepção do bar para desenvolver seu enredo, a Unidos da Tijuca fundamenta-se para dissertar acerca das questões que afligem a população brasileira no período. O ato de frequentar um bar possibilita uma forma de sociabilidade entre as pessoas, pelas quais…