Universalismo Moral e Relativismo Ético

É verdade que a idealização hegeliana, ao conceber o espírito como uma razão operante supra-individual, confina a ação moral do sujeito às fronteiras de uma eticidade que se realiza na família, na sociedade civil ou no Estado, enquanto síntese (singular) da moralidade (consciência moral subjetiva, particular) e do direito (livre vontade objetivada, universal). Limita, portanto, a possibilidade da autonomia moral do indivíduo ao que corresponderá em Piaget a uma semi-autonomia, ou, como mais tarde denominará Kohlberg, à perspectiva sócio-moral convencional. Mas esta diferença, ainda que relevante, não nega a semelhança entre o pensamento de Piaget e Hegel em relação à concepção do ponto de partida da natureza humana como pré ou amoral, e à noção decorrente de construção ou progressão do sujeito moral na sua interação com o meio social.

Diferentemente de Hegel, que, apesar dos pontos em comum acima destacados, Piaget confessou nunca ter lido19, as afinidades do pensamento do epistemólogo suíço com seu conterrâneo Jean-Jacques ROUSSEAU (1712-1778) são assumidas: "foi Rousseau o primeiro que, em 1762 (...), contestou que a criança fosse um ‘adulto em miniatura’, como se disse mais tarde, e que por conseguinte suscitou a hipótese da epigênese da inteligência" (2000, p.102). Com o intuito de "constatar ‘afinidades eletivas’ e não de postular identidades", Freitag (1991, p.16 e ss.) destaca a correspondência existente entre as faixas etárias em que Rousseau divide sua proposta pedagógica, em Émile ou de l’Education, e os estágios cognitivos do modelo psicogenético de Piaget:

De zero a dois…