Universalismo Moral e Relativismo Ético

Através da reconstituição do fio condutor desse acúmulo teórico Piaget- Kohlberg-Habermas, procurarei justificar porque (avaliação de muitos autores, com a qual partilho) mais de "meio século depois, a investigação piagetiana [no âmbito da psicologia moral] mantém sua relevância, em que pese as duras críticas que lhe têm sido formuladas" (Carracedo, 1989), demonstrando, que o estruturalismo genético – que articula a psicologia e a epistemologia piagetianas – carrega elementos profícuos para a compreensão e superação de impasses teóricos decorrentes do embate contemporâneo entre concepções normativas formais e universalistas, de um lado, contextuais e relativistas, de outro.

1. Ciência ou filosofia?

Piaget percorre uma trajetória intelectual aparentemente tortuosa em seus anos de juventude. Cientista natural precoce4, entre os quinze e os dezenove anos de idade publica cerca de vinte artigos de malacologia em revistas especializadas e, aos 22 anos, já defende tese de doutorado em biologia. Paralelamente e a despeito dessa paixão por moluscos, a partir do contato com L’évolution creatrice, do filósofo francês Henry Bergson (1859-1941), ainda na adolescência Piaget toma a decisão de consagrar sua vida à filosofia5 – propósito a que se dedicava quando, aos 25 anos, é convidado por Edouard Claparède a lecionar no Instituto Jean-Jacques Rousseau, de Genebra.

A entrada no Instituto, no entanto, levará a uma reorientação no rumo que Piaget previra para si mesmo. Permitindo-lhe aprofundar a investigação de…